Assim como eu, muitas
brasileiras desgarradas deixam suas cidades e países para tentar a vida em
outro lugar. A nossa querida Lidi também faz parte desse número de guerreiras
que se mudou da cidade natal.
Seja por realização
profissional ou por amor mesmo, o fato é que todas nós temos algo em comum: a
garra e a vontade de fazer tudo dar certo.
Esse mês de agosto eu
completo um ano aqui na Finlândia. Um ciclo completo. Primavera, verão, outono,
inverno. 365 dias. 12 meses. Passei por muita coisa por aqui, risos, choros,
tombos, frio e a maioria eu dividi com vocês.
Então, para comemorar
esse marco, entrevistei três brasileiras que moram aqui nestas frias terras e hoje
vou compartilhar a história delas com vocês. Fiz quatro perguntas iguais para
cada uma delas e as respostas são emocionantes.
Fabiane Laube |
Fabiane Laube, 30 e poucos anos, Belo Horizonte, há 15 anos morando na
Finlândia. Divorciada, sem filhos
*Porque veio para Finlândia ou
como veio parar aqui? E porque escolheu Finlândia?
“Meu coracão foi quem a princípio escolheu a Finlândia. Conheci meu
ex-marido nos EUA, que é finlandês, quando eu estava estudando na Universidade
do Texas e ele fazendo estágio de trabalho.
Nos apaixonamos e resolvi me mudar
pra Finlândia caso passasse na Universidade de Helsinki para poder continuar os
meus estudos da Língua Inglesa... Seis anos mais tarde fui eu quem escolhi
ficar: pedi o divórcio e sai do
casamento com praticamente a roupa do corpo. Eu tinha minha pequena empresa de
dar aulas de inglês para crianças e foi aí que arregacei as mangas e lutei
sozinha pra conseguir me manter aqui.
Hoje minha empresa, a 4Kids Kielikerhot Oy (clubes de língua para crianças
- www.facebook.com/4kidsclub) ajuda por volta de 500 crianças finlandesas por
ano a aprender o básico do Inglês. Para mim é um orgulho não só conseguir me
manter aqui, mas também poder oferecer emprego para outros finlandeses ou
estrangeiros.
Acredito que todo mundo tem um missão aqui na terra: a minha é de alegrar
crianças no processo ensinar pra elas inglês que é uma das línguas mais
importantes do mundo, principalmente no campo profissional.”
*Como foi chegar em um país
desconhecido para a maioria dos brasileiros?
“Eu cheguei na Finlândia em maio de 2000. Me apaixonei pelo país assim que
pisei aqui: que lugar limpo, lindo, tudo funciona, as flores no verão, as
florestas e suas frutinhas silvestres, lagos, e cogumelos, a sauna, o salmão, a
água que é a mais fresca do mundo, que maravilha!
Claro que tive um período difícil que durou uns 2-3 anos: o fato da língua
ser tão difícil de aprender, as pessoas serem mais reservadas e o silêncio,
dificultaram um pouco a minha adaptação, mas quando finalmente entendi que
simplesmente as culturas finlandesa e
brasileiras são diferentes uma da outra, aprendi a apreciar as coisas boas das
duas culturas, ao invés de focar apenas no negativo.
Acho que qualquer pessoa que vive aqui por pelo menos dez anos, virá um fã
incondicional da Finlândia: dá valor a coisas como a segurança pessoal, a vida
mais simples, mas com mais qualidade e até o silêncio a gente aprende a
apreciar!”
*Hoje, você pensa em voltar para
o Brasil? E daqui alguns anos?
“Eu amo o Brasil porque é o país onde nasci e dou graças a Deus de ter
nascido de uma família humilde, onde meus pais me ensinaram a lutar pelas
coisas na vida,apreciar as pequenas coisas, e trabalharam duro para nos dar uma
educação de qualidade pra que eu e minha irmã tivéssemos um futuro melhor. Mas
infelizmente tirando minha família, os amigos, a comida e o clima, eu não
gostaria de morar no Brasil novamente. Essa decisão tomei quando presenciei um
assassinato na porta da nossa casa no Brasil estando de férias na casa dos meus
pais. Foi ali que mais uma vez percebi como que a segurança pessoal é uma das
coisas mais importantes na vida e não quero nunca viver nu lugar onde terei
medo de sair de casa ou de dormir sabendo que algo ruim poderia acontecer
comigo ou com as pessoas que amo.”
*Um sonho
“Meu sonho é poder ver minha família com mais frequência e que o Brasil
foque em educação para que o país realmente possa ter uma melhora, pois sem a
educação, país nenhum se desenvolve.
Cantar também é minha outra paixão e eu tinha o sonho de cantar no programa
The Voice of Finland. Esse sonho se tornou realidade no ano passado e foi uma
experiência fantástica ser treinada pela Tarja Turunen, ex-vocalista do
Nightwish, que é uma das Finlandesas que mais admiro. Aqui vão uns clipes da
minha participacão no programa
Gisele Nogueira |
Gisele Nogueira, 30 e poucos anos, São
Paulo, há quase 5 anos na Finlândia.
Solteira, sem filhos
*Porque veio para Finlândia ou
como veio parar aqui? E porque escolheu Finlândia?
“Por causa do trabalho. Eu trabalhava no escritório da Nokia em São Paulo e
me candidatei para uma vaga global e fui escolhida. A vaga era na Finlândia.”
*Como foi chegar em um país
desconhecido para a maioria dos brasileiros?
“Por conta do trabalho, já conhecia alguns brasileiros que moravam aqui e
eles me ajudaram no começo, mas foi uma grande choque cultural.
Lembro que a única coisa de casa que comprei sozinha foi a televisão e tive
que pedir ajuda para carrega-la até em casa. Aqui eles entregam as coisas na
sua mão e tchau, bem diferente dos serviços de entrega em casa no Brasil.”
*Hoje, você pensa em voltar para
o Brasil? E daqui alguns anos?
“Nos meses mais críticos de frio - Novembro a Fevereiro - sempre penso em
voltar para o Brasil :) mas, sinceramente, ainda não tenho planos.
A Finlândia é um exemplo: tudo muito organizado, limpo e muito seguro. É
incrível a oportunidade de andar a qualquer hora do dia e qualquer lugar sem
ter a sombra da violência, sem medo.”
*Um sonho
“Que o Brasil se torne
um país melhor. Morando na Finlândia aprendi que os impostos são ótimos se
realmente forem revertidos para a população. Aqui temos bons ônibus, boas
estradas, ruas, escolas e hospital público. Fora senso de igualdade aqui, todas
as pessoas tem as mesmas oportunidades.”
Selma Greus e o marido, Ari |
Selma Greus, 40 e poucos anos, Mogi das Cruzes, São Paulo,
há 23 anos na Finlândia.
Casada, dona de casa, três filhas
Casada, dona de casa, três filhas
*Porque veio para Finlândia ou
como veio parar aqui? E porque escolheu Finlândia?
“Conheci o Ari em Mogi,
e aquela velha história, nos apaixonamos e cá estou eu... Rs... Eu conheci o Ari
porque a minha prima estava indo com ele para um show do Éric Claptom em São
Paulo, mas depois de um mês ele voltou para a Finlândia. Alguns meses depois
ele voltou para o Brasil para terminar o
trabalho de graduação e então ele entrou em contato e a gente começou a sair.
No começo a gente sabia
que iria ser só por 4-5 meses mais depois que ele veio embora a gente começou a
escrever cartas, e toda semana chegava de uma a três cartas, agora quem namora
a distância tem a facilidade da internet, com Skype, WhatsApp etc e tal mais na
minha época (tão vendo como estou ficando velha, parece a minha vó falando) era
tudo escrito a mão e mandado pelo correio e demorava mais ou menos uma semana
para chegar a carta...”
*Como foi chegar em um país
desconhecido para a maioria dos brasileiros?
“Como vim praticamente sem planejar direito, porque
eu e o Ari resolvemos nos casar depois de estarmos "namorando" (via
cartas a maior parte) depois de um ano que nos conhecemos, em um mês, os papéis
para o casório sairam, nos casamos e vim para cá.
Cheguei no mês de maio,
então não senti tanto o choque e o irmão do Ari tinha uma namorada espanhola é
vários amigos estrangeiros inclusive uma brasileira que moravam em Oulu (uma
cidade norte da Finlândia), então tudo isso me ajudou na adaptação e a não
sentir o choque térmico do inverno. A saudade da família no começo foi muito
forte, mas depois vai passando
Hoje sou dona de casa,
mas fiz faculdade de Relações Públicas
em Mogi. Depois que cheguei na Finlândia, fiz dois cursos de finlandês através
do työvoimatoimisto (um centro do governo que oferece curso de finlandês ao
estrangeiros). Depois de algum tempo, por conta do trabalho, nós nos mudamos o
Japão e ficamos lá cinco anos. Em todos os trabalhos dele, ele trabalhava até
tarde e viajava muito, então era melhor ficar em casa cuidando das crianças.
*Hoje, você pensa em voltar para
o Brasil? E daqui alguns anos?
“Não penso em voltar ao
Brasil e nunca pensei. Depois de alguns anos aqui, o Ari quis voltar mais eu
não e depois da primeira filha ainda, ai que não queria mesmo. A criminalidade
de lá ainda é muito grande e você anda sempre olhando por cima dos ombro e com
criança ainda os cuidados tem que ser triplicados.
Voltar ao Brasil daqui
a alguns anos só se a criminalidade abaixar para um índice quase igual ao da
Finlândia.”
*Um sonho
“Sonho com tantas
coisas que é até difícil de todos se concretizarem... Mais o que eu mais
gostaria que eu acho que ainda até poderia se concretizar se a situação da
Finlândia melhorar, e ter a minha própria lojinha de sapatos do Brasil.”
Agradeço de coração o carinho e atenção das três em nos contar um pouco mais de suas vidas!