5 de fevereiro de 2015

Em Helsinki não falta água

Como é possível beber a água da torneira em Helsinki?


A crise de falta de água em São Paulo está feia. É aí que vale a pena olhar para fora e ver como outras cidades no mundo lidam com esse recurso tão essencial para a vida.



Segundo o The World Factbook, o Brasil é o primeiro país do mundo em volume total de recursos hídricos renováveis com 40 milhões de litros por pessoa. A Finlândia aparece em 65º com 20 milhões de litros. No entanto, a Finlândia é o 1º país do mundo em Saúde Hídrica, enquanto o Brasil é o 50º.

Como pode, no Brasil, termos cidades que desperdiçam mais de 70% da água produzida? Por que temos um padrão de qualidade que não é totalmente confiável? Você beberia água da torneira no Brasil? Saiba que na Finlândia torneira é sinônimo de água potável!

Em Helsinki torneira é sinônimo de água potável
Em Helsinki não falta água
Foto: Entre vodka e cachaça


O objetivo aqui não é estressar os graves problemas de gerenciamento existentes no Brasil, pois disso você já sabe. O atual problema de falta de água não ocorre somente por causa do regime de chuvas abaixo da média, mas principalmente por conta da falta de planejamento consistente de longo prazo e investimentos em sistemas robustos e confiáveis.

Com esse assunto em mente, resolvemos tentar entender como funciona o sistema por aqui e como pode a água ser tão limpa (e até deliciosa!) em todas as torneiras.

Como funciona em Helsinki


A Região Metropolitana de Helsinki é formada pelos municípios de Helsinki, Espoo, Kauniainen e Vantaa e possui pouco mais de 1,1 milhões de habitantes. O órgão responsável pelo tratamento e fornecimento de água é o HSY (Serviços Ambientais da Região de Helsinki).

A maior parte da água bruta vem do lago Päijänne, transportada por um túnel escavado na rocha, com extensão de 120 km. O lago está localizado em uma altitude maior do que a altitude da estação de tratamento, de forma que a própria força da gravidade ajuda no fluxo da água. Além disso, na região de Kalliomäki, uma usina aproveita o movimento da água no túnel para gerar energia elétrica.
A quantidade de água captada no lago Päijänne corresponde a somente 1% da sua recarga natural, ou seja, é praticamente irrelevante em relação ao volume do lago. A qualidade da água é excelente e a área é preservada.

Lago Päijänne
Em Helsinki não falta água

Após viajar 120 km a água é tratada nas estações de Pitkäkoski e Vanhakaupunki. Lá recebe produtos químicos que removem a pouca matéria orgânica existente na água e ajustam o seu pH. Além disso, a água passa por um processo de desinfecção com ozônio.

Após o tratamento a água é distribuída para a rede. A maior parte das tubulações é de ferro fundido com proteção externa (betuminosa) contra corrosão e interior de concreto. As tubulações menores são de plástico ou aço. As perdas por vazamento, tubulações danificadas e distribuição não contabilizada não passam de 11%.



Como funciona em São Paulo


A Região Metropolitana de São Paulo é formada por 39 municípios, dos quais 31 são atendidos pela Sabesp. A população neste região é de mais de 20 milhões de habitantes.

A água que abastece os municípios vem de diversas represas que compõe diversos sistemas: Cantareira, Guarapiranga e Alto Tietê, Rio Claro, Rio Grande, Alto Cotia, Baixo Cotia, Ribeirão da Estiva e outros sistemas isolados pequenos. Em geral, a água é bombeada por grandes adutoras para as estações de tratamento. No caso da represa Billings, no Sistema Guarapiranga, sua água deveria ser também utilizada na Usina de Henry Borden, construída em 1926, para geração de energia elétrica. Porém devido à poluição da água e conflitos de uso, como para controle de cheias e consumo, a usina é subutilizada.

A quantidade de água captada em algumas represas já ultrapassa sua recarga natural, sendo agravado pelos períodos mais frequentes de estiagem prolongada. Assim, o nível da água vem caindo consideravelmente. A qualidade da água de diversas represas é comprometida devido a assentamentos irregulares e despejos de lixo e esgoto.

Represa Billings


Após a captação, nas estações de tratamento, a água recebe produtos químicos e tem seu pH ajustado. O processo de tratamento da Sabesp é confiável e eficiente, porém devido à poluição dos mananciais tem sido cada vez mais desafiador tratar a água adequadamente e uma quantidade grande de produtos químicos é consumida. A desinfecção é em geral feita com cloro.

Após o tratamento, a água é distribuída na rede. Com tubulações antigas e danificadas, existe a probabilidade de ocorrer contaminação da água em seu caminho para as residências. Além disso, o índice de perdas é alto, atingindo facilmente 30% e, em alguns municípios ultrapassando os 50% (isso mesmo, metade da água tratada é desperdiçada).


*****

Sim, a Região Metropolitana de Helsinki é bem menor e mais fácil de ser administrada, porém tamanho não é desculpa para descaso. Porém, descaso maior é desperdiçar 50% de água no caminho para as residências. 

Problemas e desafios existem em todos os lugares. Com certeza não foi nem um pouco fácil conceber e construir todo este sistema de Helsinki, porém planejamento, recursos bem investidos e visão de longo prazo com certeza já são um grande passo.


Fontes: 

Water Treatment in Helsinki, Mikael Sillfors
Atlas Brasil - Abastecimento Urbano de Água, ANA



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